Juntamente com o intenso interesse em profecias cronológicas, o movimento do Segundo Advento caracterizou-se também por diversos outros fatores distintivos.
Muitos dos grupos dissidentes do Segundo Adventismo que se ramificaram dos Mileritas originais rejeitavam as doutrinas da alma imortal e do inferno de fogo (e até mesmo a doutrina da trindade). Isto foi em grande parte devido aos artigos e tratados publicados nas décadas de 1820, 1830 e 1840 por um ex-pastor batista, Henry Grew de Hartford, Connecticut e depois de Filadélfia, Pensilvânia. (1)
A doutrina da “imortalidade condicional” foi introduzida originalmente entre o Mileritas por George Storrs. Foi a leitura de um dos tratados de Grew em 1837 que fez Storrs se voltar contra as doutrinas da alma imortal e do inferno de fogo, e depois se tornar o principal defensor do condicionalismo nos Estados Unidos.
Típico de muitos periódicos Segundo Adventistas, o Crise Mundial (em inglês) defendia o condicionalismo, a doutrina da imortalidade conseqüente de que o destino dos rejeitados por Deus é a destruição ou aniquilamento, e não o tormento consciente. O Crise Mundial tinha defendido a data de 1854 para a segunda vinda de Cristo e quando, assim como todas as datas anteriores, esta falhou, a “questão da imortalidade” ficou fortemente em evidência e causou uma segunda divisão importante dentro do movimento original.
Embora a doutrina da imortalidade condicional tenha sido por fim adotada pela maioria dos Segundo Adventistas, ela nunca foi aceita pela liderança do movimento original, que começou a condená-la cada vez mais como heresia em seu periódico, o Arauto do Advento. Finalmente, em 1858, os Segundo Adventistas originais, ou “Adventistas Evangélicos”, como eles então se autodenominavam, romperam abertamente com os adventistas “condicionalistas” e formaram uma organização separada, a Conferência Americana Evangélica do Advento. Os Adventistas Evangélicos, porém, logo se tornaram minoria, uma vez que um número crescente de seus membros passou a apoiar os adventistas “condicionalistas”. A associação finalmente deixou de existir nos primeiros anos do século 20. (2)
Depois do rompimento com os Adventistas Evangélicos, os apoiadores do periódico Crise Mundial também, formaram uma denominação separada em 1860, a Associação Cristã do Advento (depois “Igreja Cristã do Advento”), que é hoje a mais importante denominação adventista ao lado dos Adventistas do Sétimo Dia e das Testemunhas de Jeová. (3)
Todavia, muitos adventistas “condicionalistas” não se juntaram a esta associação, em parte porque se opunham fortemente a todas as formas de organização estruturada de igreja e não aceitariam qualquer nome para sua igreja, a não ser “Igreja de Deus”, e em parte devido às suas idéias distintivas sobre a “era vindoura”, ou seja, que os judeus seriam restabelecidos na Palestina antes da vinda de Cristo, que a vinda dele daria início ao milênio, e que os santos reinariam com Cristo por mil anos, período esse no qual o reino dele seria estabelecido na terra. No início da década de 1860, estes adventistas se separaram dos Cristãos do Advento. (4)
Em 1863 outro grupo de adventistas “condicionalistas”, encabeçado por Rufus Wendell, George Storrs, R. E. Ladd, W. S. Campbell e outros, rompeu com a Associação Cristã do Advento e formou uma nova denominação, a União da Vida e do Advento. Este grupo promulgou a idéia de que só os justos seriam ressuscitados na vinda de Cristo. Os iníquos mortos permaneceriam em seus túmulos para sempre. Eles negavam também a personalidade do Espírito Santo e até mesmo do Diabo. Para promover estes ensinos, eles iniciaram um novo periódico, o Arauto da Vida e do Reino Vindouro (em inglês), sendo Storrs o editor. (5) Depois Storrs mudou seu ponto de vista sobre a ressurreição e deixou o grupo em 1871, voltando a publicar sua antiga revista, Examinador da Bíblia.
NOTAS:
(2) “Saí de Babilônia”: Um Estudo do Separatismo e Denominacionalismo Milerita, 1840-1865” , David Tallmadge Arthur (em inglês - dissertação de mestrado não publicada, Universidade de Rochester, 1970), págs. 291-306; História da Segunda Mensagem do Advento, Isaac C. Wellcome (em inglês - Yarmouth [Maine], Boston, Nova Iorque, Londres, 1874), págs. 597-600, 609, 610. Veja também a excelente análise de D. A. Dean, op. cit., págs. 122-129. Até mesmo Joshua V. Himes, editor do Arauto de Advento e o líder mais influente no movimento original depois da morte de Miller em 1849, adotou a posição “condicionalista” em 1862 e deixou os Adventistas Evangélicos.
(3) Numericamente, a associação desta igreja permaneceu com algo entre 30.000 e 50.000 membros ao longo de sua história. Os dois líderes e escritores mais influentes na formação da associação foram H. L. Hastings e Miles Grant, tendo sido este último o editor de Crise Mundial de 1856 a 1876. Hastings deixou a associação em 1865 e permaneceu independente de toda associação pelo resto de sua vida, embora ele tenha continuado a defender o condicionalismo e outros ensinos da denominação Cristã do Advento. (Veja Dean, op. cit., págs. 133-135, 142, 210-294.)
(4) O principal defensor destes pontos de vista foi Joseph Marsh, de Rochester, Nova Iorque, editor do Precursor do Advento e Defensor da Bíblia (em inglês – nome mudado em 1854 para Expositor Profético e Defensor da Bíblia, também em inglês). Veja também D. T. Arthur, op. cit., págs. 224-227, 352-371. Tanto Henry Grew como o tradutor bíblico Benjamim Wilson associaram-se com este grupo. (Marcos Históricos da Igreja de Deus, Oregon, Illinois: Conferência Geral da Igreja de Deus, 1976, págs. 51-53, em inglês) Devido à sua oposição a toda igreja organizada, os adventistas da “era vindoura” associavam-se de modo muito vago. Uma organização mais estável só foi formada em 1921, quando a Igreja de Deus da Fé Abraâmica foi organizada com sede em Oregon, Illinois. – D. T. Arthur, op. cit., pág. 371.
(5) D. A. Dean, op. cit., págs. 135-138; D. T. Arthur, op. cit., págs. 349-351. A União da Vida e do Advento manteve-se ativa até 1964, quando se fundiu novamente com a Igreja Cristã do Advento.
Extraído de:
Carl Olof Jonsson, "Os Tempos dos Gentios Reconsiderados", 1ª ed., 2008, Apêndice ao capítulo 1.
Extraído de:
Carl Olof Jonsson, "Os Tempos dos Gentios Reconsiderados", 1ª ed., 2008, Apêndice ao capítulo 1.
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