Meu
nome é Eliézer Rien, nasci já nos átrios da IASD, sou a terceira
geração de adventistas. Quero começar pelo dia do meu “batismo”...
Fui
“batizado” com 11 anos de idade, em um “batismo de primavera” tão
famoso no meio adventista. Aquele ano parece-me, que não foi um bom ano
para as metas batismais dos pastores, pelo menos não para o pastor da
minha igreja local. A igreja que eu freqüentava é até hoje uma das
maiores igrejas adventistas da cidade de Porto Alegre, muitos membros,
igreja grande. Lembro-me do pastor umas semanas antes do tal batismo
percorrer as salas de “escola sabatina” a fim de angariar crianças para
batizarem-se. Eu de minha parte atendi parcialmente ao chamado aceitando
seu apelo na “escolinha”. Entretanto para mim, aquilo tinha ficado por
isso mesmo. Mas alguns dias depois meus pais me perguntaram se eu
gostaria de me batizar, creio que alguém, provavelmente o pastor, havia
ido conversar com eles a respeito do meu batismo.
No
dia do meu batismo, foram reunidas várias pessoas, porém foi feito uma
separação em dois grupos: as pessoas que haviam aceitado o batismo e
estavam tornando-se membros adventistas naquele evento e um grande grupo
de crianças da própria igreja local. Lembro-me que um pouco antes do
programa começar, o próprio pastor procurou meu grupo e reuniu a todos a
fim de passar as instruções, que foram mais ou menos estas: “Não fiquem
nervosos, não tem problema algum, somente entrem no tanque batismal e o
resto eu falo na hora. Também, depois do batismo, vocês serão chamados
até ao púlpito e vou fazer 10 perguntas a vocês, é só vocês responderem
sim para todas elas e pronto”.
Não
preciso dizer que estas palavras até hoje ecoam em minha mente. É
assustador a falta de preparo, de delicadeza, e seriedade de algo que
deveria ser o momento mais importante de sua vida. Naquele momento me
senti mais um número, tive este sentimento mesmo sendo uma criança de 11
anos.
Os
anos se passaram e meu pai foi transferido de estado por causa de sua
profissão. A partir dos 14 anos, freqüentei por um ano o IAP (Instituto
Adventista Paranaense), posso dizer que este ano pra mim foi muito bom,
pois fiz amigos, me diverti muito neste ano, mas um detalhe me marcou
imensamente naquele lugar. Meu preceptor era um pastor, se é que posso
chamar aquilo de pastor, que como ser humano posso afirmar sem sombra de
dúvida que tem sérios problemas psicológicos, uma pessoa extremamente
egocêntrica, tudo se resumia ao seu umbigo, e para piorar ainda mais,
ele tinha em si um toque de crueldade misturado com masoquismo.
O
grêmio masculino freqüentemente fazia lanches a fim de arrecadar
dinheiro. Normalmente estes eventos tornavam-se festas de horrores, pois
alguns pobres bolsistas não tinham dinheiro para comer aqueles lanches
deliciosos (eram bons mesmo), e nosso “bom” preceptor tinha digamos uma
“brincadeirinha” para aqueles que quisessem “ganhar” um lanche. Esta
criatura havia fabricado uma ripa de madeira-ferro de cerca de 40x8x2cm
toda furada no seu miolo. Com este brinquedinho, ele “trocava” 3
palmadas dadas por ele, por um lanche do grêmio. Aqueles pobres jovens,
muitas vezes se submetiam aquela seção de tortura para poder comer um
daqueles lanches que o grêmio fazia. Muitas vezes, quando pude, paguei
lanches para alguns destes coitados, com o propósito de evitar o pior.
No
outro ano, voltei para casa. Quando eu tinha 18 anos, em um sábado à
tarde, eu estava deitado no sofá de casa lendo um livro chamado “Viajem
ao Sobrenatural” de Roger Morneau. Sim, eu era um jovem que fui “criado”
com o habito da leitura, nesta época eu já havia lido quase que
totalmente as principais obras de Ellen G. White, e muitos outros
títulos de escritores famosos adventistas. Porém, este livro a mim,
causou um sentimento diferente, tive certo gosto a mais por aquela
leitura.
E
naquela tarde de sábado, tive uma experiência que nunca mais vou
esquecer na vida. Enquanto eu lia certo capítulo, algo me tocou e
comecei a chorar e naquele mesmo momento comecei a orar, minha oração
foi mais ou menos assim: “Senhor, não quero ser mais um esquenta banco
dentro da igreja, chega de ser um fardo, quero fazer algo em prol da Tua
obra. Abra meus olhos e me mostre àquilo que Tu queres que eu faça”.
Não pude acabar minha oração, pois naquele mesmo instante ouvi uma voz,
como se alguém estivesse bem na minha nuca, dizer: “SEJA PASTOR”. Não
preciso dizer que me assustei de maneira como eu nunca havia me
assustado. Olhei para trás e não havia ninguém na janela atrás de mim.
Ainda muito assustado, fechei meus olhos, e novamente me pus a orar, e
disse: “Pai, não sei bem o que aconteceu, e quero acreditar que não
estou louco ouvindo coisas, por favor, se isso for de Ti e não for pedir
muito, confirme o que acabei de ouvir”.
Imediatamente,
como se ouve a voz de qualquer pessoa em um diálogo, ouvi novamente a
mesma frase: “SEJA PASTOR”. Naquele momento, tive uma avalanche de
emoções dentro de mim, uma mistura de medo com empolgação, misturado com
outros sentimentos que não sei descrever melhor. Após o ocorrido,
fiquei em conflito, pois ser pastor era algo que me repudiava de certa
forma que não conseguia nem me imaginar fazendo algo neste sentido.
Tenho pastores, obreiros, fundadores de igrejas na família, tanto por
parte de pai, quanto de mãe, mas me tornar pastor, nunca foi minha
intenção.
Dias,
meses, anos se passaram, e eu deixei de lado aquilo, mesmo com todo
desfecho sobrenatural da situação, em meu coração, não era o que queria
para mim. Neste período, me casei e fui morar em Santa Catarina. Cheguei
lá a fim de abrir uma empresa de sociedade com meus cunhados. Logo no
final dos primeiros 6 meses, a coisa não deu certo por conflito de
idéias. Eu e minha esposa freqüentávamos a igrejinha local, e dentre os
membros, havia um senhor que tem uma marcenaria.
No
final de um culto de domingo à noite, eu estava conversando com ele, e
surgiu a oportunidade de eu falar que eu estava sem emprego, se ele
sabia de alguma empresa que precisa de alguém. Ele disse-me, que na
marcenaria dele, precisava de um ajudante de marceneiro, e se eu
estivesse interessado, era só falar. Prontamente, combinamos valores
para meus ganhos e demais detalhes. E comecei a trabalhar com este
senhor. Posso dizer que muitas coisas aconteceram neste período que
freqüentei esta igreja e trabalhei para este senhor. Mas são coisas que
não convém relatar aqui.
Certo
mês ele atrasou meu pagamento, e isso se repetiu por mais 1 mês. Um
determinado dia, fui conversar com ele, a fim de resolver o problema, e o
que ele me disse me marcou de maneira assombrosa: “Não vou te pagar,
você anda falando mal de mim pelas costas. E saia da minha frente antes
que eu desça o braço em você”. Aquilo para mim foi uma das piores
decepções da minha vida. Mas eu já deveria esperar, pois a quantidade de
cobradores que iam até a empresa cobrar as dívidas desde senhor era
enorme e ele sempre usando de mentiras e ameaças para se livrar destes
cobradores. Só que eu era membro da mesma igreja, tínhamos quase que os
mesmos amigos, para mim não tinha cabimento o que ele tinha feito
comigo. Fora que a situação era exatamente o contrário daquilo que ele
havia me dito, pois, indiretamente, “toda” igreja sabia das malandragens
deste senhor, e eu sempre o defendia quando via alguém falando mal dele
pelas costas.
Mediante
a nova situação, a coisa havia mudado, tentei falar com ele mais uma
vez, queria ouvir está história direito, mas meu trabalho foi em vão,
nem me atender ele quis. Foi aí que decidi conversar e me orientar com o
“meu” pastor. Ele era um pastor jovem, dinâmico, porém, com a maioria
dos pastores que conheci na minha vida, era mais um que fazia exatamente
o oposto do que pregava. Eu posso dizer que gostava muito dele, e gosto
até hoje, como pessoa, não como “ministro”, pois neste quesito deixava
muito a desejar. Mas nunca levei muito a questão a sério, porque sempre
ouvia na igreja que temos que focar na igreja como um todo, pois se
focarmos em pessoas, certamente iríamos desistir dela. Não adiantou em
nada pedir instrução ao pastor, pois a orientação dele foi que eu
seguisse minha vida e deixasse isso quieto.
Neste
período, comecei a pensar no que Deus poderia querer de mim? E
relembrei aquilo que havia acontecido comigo naquela tarde de sábado.
Contei para minha esposa, e começamos a orar para que Deus orientasse
naquilo que fosse melhor para nós.
Logo
depois, consegui um emprego em uma grande empresa de fabricação de
móveis planejados da cidade, fui contratado pelo proprietário da
fábrica. Não durei uma semana, no mesmo dia que entrei no trabalho já vi
que teria problemas com o gerente de produção, um senhor que havia
ganhado a vaga por falta de opção, não por merecimento. Sou uma pessoa
extremamente detalhista, gosto das coisas muito bem feitas, tenho que
admitir que em determinados momentos sou chato mesmo neste quesito, por
este motivo, eu demorava um pouco mais que os outros para fazer os
móveis, pois me dedicava e tentava ser quase que perfeito, se isso fosse
possível.
Este
senhor, aproveitando a situação começou a pegar no meu pé em relação a
este assunto. Aproveitando uma viajem que o proprietário da empresa fez,
na sexta-feira me dispensou dizendo que eu era muito lento e não daria
conta do trabalho. Descobri depois, que na verdade não era este o
problema, pois ele andou falando com outro marceneiro que eu era um
“filhinho de papai” com faculdade que estava brincando de marceneiro.
Tive a impressão que na verdade, ele estava era com medo que eu
“tirasse” a vaga dele de gerente, pois eu havia ouvido do dono da
empresa que aquele cargo dele era somente temporário até achar alguém
“mais adequado e capacitado”, e pelo que o outro marceneiro havia me
dito, creio que este foi realmente o problema.
Tive
outras tentativas em outras empresas do ramo, e sempre por algum motivo
mesquinho, não dava certo. Foi aí que resolvi procurar novamente “meu
pastor”. Contei tudo que havia acontecido comigo, contei sobre aquele
sábado e tudo que aconteceu. O pastor ficou extremamente comovido com a
minha história e disse que eu não poderia continua fugindo de Deus. Eu
tinha um chamado, e Deus iria me “perseguir” até eu obedecer. Baseado
naquelas palavras, me convenci que aquilo era o correto. Mas não sabia
nem por onde começar. Pedi orientação novamente a ele, e ele me disse
que eu precisava fazer o vestibular de teologia do UNASP/EC, e que a
segunda coisa a fazer era me tornar colportor, pois além de pagar meus
estudos, eu teria obrigatoriamente de passar pela colportagem antes de
me formar. Com muita resistência, resolvi seguir sua opinião, e ele me
disse que no outro dia ele iria até Florianópolis na Associação e que
era para eu ir junto que ele iria me recomendar pessoalmente ao diretor
de Colportagem de SC.
No
outro dia fomos a Associação, naquele momento eu não sabia, mas naquele
dia conheci a pessoa mais horrível que já conheci em minha vida, afirmo
isso sem medo de errar. A princípio fui muito bem recebido, o pastor
pediu que eu contasse minha história ao diretor de colportagem, e assim o
fiz. No final ele me pareceu sínico, pois era evidente que o sentimento
que ele tentou demonstrar era falso, claramente via no rosto dele a
falsidade. Está foi a primeira má impressão que tive deste senhor.
Conversamos um pouco e ele me passou detalhes sobre a colportagem, e me
disse que estaria começando uma “Campanha” em Joinville no mês seguinte e
que era para eu ir para lá. O grande problema é que minha esposa
trabalhava no colégio adventista (também é uma triste história), eu não
poderia abandonar minha esposa sozinha em outra cidade e ir para
Joinville. Estranhei um pouco, mas a orientação dele foi deixar minha
esposa sozinha e que eu deveria ter fé, pois Deus cuidaria dela. Mas
como era a orientação de um pastor, eu acatei, e no mês seguinte deixei
minha esposa e fui para Joinville.
Cheguei
a Joinville e a campanha já havia começado a 3 dias. Acomodações
precárias, jovens passando fome, pois não tinham dinheiro nem para
comprar comida, o que encontrei foi algo que nunca pensei que
encontraria dentro da IASD. Nunca imaginei que “a obra de Deus” pudesse
ser daquele jeito. Foi uma grande decepção, contudo eu estava focado e
precisava vender os livros para ter o que comer, e ainda guardar para
poder pagar meus estudos no UNASP.
Fui colocado de dupla com um rapaz que se tornou um grande amigo. Colportavamos juntos e começamos a vender muito bem. O dinheiro entrando e eu estava ficando satisfeito com tudo aquilo, pois meu objetivo estava sendo alcançado. Ao meio dia, nós sempre parávamos por 1 ou 2 horas a fim de descansar, em uma destas paradas, foi que eu tive o primeiro contato pessoal com uma oposição bíblica a doutrina adventista. Eu estava lendo o Novo Testamento, quando me deparei com um versículo que dizia que os apóstolos batizaram em nome de Jesus.
Naquele
momento me veio uma lógica que eu nunca tinha tido antes, mesmo lendo
os mesmos versículos em outras oportunidades anteriores. Como que Jesus
manda em Mateus 28:19 batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, e os apóstolos fizeram diferente depois? Isso me deixou encucado,
e comecei secretamente a estudar sobre o assunto. Foi aí que percebi
que existia algo de muito errado na doutrina adventista. Um dia, num
destes momentos de almoço, peguei este amigo, e comecei a mostrar para
ele aquilo que eu havia descoberto. No começo, foi um pouco duro para
ele e para mim, pois estávamos com um grande problema nas mãos: Nós
fazíamos parte da “única igreja verdadeira da terra”, e está igreja
tinha um erro tão grave! Discutimos muito a respeito do que fazer com
aquela nova descoberta, e chegamos à conclusão que aquilo era o chamar
de Deus para nós, pois sendo pastores (ele também queria fazer teologia)
poderíamos tentar corrigir este erro doutrinário dentro da “Igreja de
Deus”. Chegou o dia do vestibular, e fomos levados até Florianópolis
para fazer as provas. Voltamos para Joinville e a vida continuou.
Um
dia a liderança da Campanha de Joinville começou a organizar grupos de
colportores para criar campanhas menores em cidades menores. Foi aí que
tive a idéia de colportar em minha cidade. Falei com meu amigo e fiz a
proposta para ele. Seria perfeito, pois além de eliminar os custos com
hospedagem e comida, poderia ficar próximo à minha esposa, pois a
saudade estava me corroendo por dentro.
Informamos
a liderança da campanha e a aceitação foi imediata, mas tinha um
problema, ele não queria nos fornecer material, e fomos obrigados a
comprar R$3.000,00 em materiais. Por
mais insatisfeito que eu tenha ficado, a mim não pareceu uma coisa
muito ruim, já que em pouco mais de duas semanas eu e meu amigo havíamos
vendido mais que isso.
Em
2008, ouve uma grande tragédia natural em SC, passamos por toda na
minha casa. Vários dias sem água potável em casa e muitas outras
dificuldades. Como a enchente não alcançou minha casa, saímos e fomos
ser voluntários em um abrigo na cidade de Itajaí; para chegar ao abrigo,
que ficava num clube em um bairro da cidade, precisamos ser levados de
lancha do Corpo de Bombeiros de tão feia que foi a coisa toda, até
corpos boiando entre as ruas da cidade nós vimos, mas isso é outra
história.
Dias
depois quando as coisas estavam melhorando e as cidades estavam
voltando ao normal, meu amigo recebe a ligação do Diretor de Colportagem
de SC convidando ele e a mim a ser líder e vice em uma das campanhas
que iria começar no outro mês na cidade de São Bento do Sul. Como iria
ser uma campanha pequena, ele acertou os detalhes ali por telefone
mesmo. O meu amigo como líder, iria ganhar uma porcentagem da
arrecadação da campanha e eu como vice, ganharia uma carta de crédito
que pagaria meu primeiro semestre no UNASP. Mal eu sabia no que estava
me metendo. Quando começou a campanha em São Bento
do Sul, naturalmente, fui assumindo as responsabilidades e sem querer
fui assumindo a liderança da Campanha, não uma liderança nominal, mas
sim uma liderança natural. Éramos muito amigos, e um dia paramos para
conversar sobre o assunto. Meu amigo percebeu e sem causar problema
algum, aceitou sem problemas esta naturalidade da coisa. Tenho esta
liderança nata, é algo que acontece naturalmente, e aos poucos fui
conquistando a confiança da equipe toda. Mas como eu sei me colocar em
meu lugar, sempre qualquer decisão a ser tomada, levava até meu amigo
para que decidíssemos juntos. E tudo estava perfeito. Até que um dia,
fomos avisados que uma colportora individual iria vir com a filha dela e
ficaria conosco, pois elas trabalhavam com palestras, mas precisavam de
um lugar para ficar.
Imagine
uma pessoa extremamente fanática, não tínhamos na casa fogão
convencional, usávamos fogão à lenha, e esta pessoa começou a criar
problemas com os colportores, pois eles não poderiam comer no sábado,
porque teriam que acender fogo. (ela tinha trazido um microondas, kkk)
Muitas noites, todos fomos acordados por ela, pois ela dizia que
tínhamos que fazer “madrugadas de oração”, imagine um bando de jovens,
muito cansados, que andam 20 a 30 km
por dia, terem que acordar de madrugada para ficar fazendo madrugada de
oração? Cada vez que se lia a bíblia ela obrigava todos ficarem em pé,
bem coisa de pentecostal mesmo. Fora que frequentemente ela recebia umas
mensagens de Deus, sim, isso mesmo, ela dizia que ouvia Deus falar com
ela, e ela vivia mandando recados de “Deus” para todo mundo.
Isso
começou a diminuir o rendimento do pessoal, e tivemos que tomar medidas
em relação aquilo. Chamamos a tal irmã, e conversamos seriamente com
ela, informamos, que os líderes da campanha eram nós, e que a partir
daquele momento, ela não tinha permissão de fazer nada sem nossa
expressa autorização.
Assinei
meu nome na lista dos perseguidos naquele momento. Pois realmente, me
senti na inquisição, esta senhora começou a inventar mentiras a meu
respeito, começou a tentar colocar os membros do grupo contra mim.
Chegou até procurar meu amigo e sugerir para ele que o que eu queria
mesmo era passar a perna nele. Sei que a coisa foi feia. Mas o pior
ainda iria vir, pois ela era uma “ótima colportora”, leia-se: “faturava
muito”. E tinha certos privilégios perante a diretoria. Estas mesmas
mentiras chegaram aos ouvidos do diretor de SC, e ele escolheu de que
lado ficaria, escolheu o dela. Outro fator que a diretoria não gostou,
era o fato de eu e meu amigo, ajudarmos os colportores que tinham
dificuldades. Nós antecipávamos pagamentos e outras poucas coisas mais, a
fim de ajudar a alguns pelo menos terem o que comer. Comecei a ser
perseguido por este senhor também, como meu amigo não daria conta de
levar a Campanha sozinho, ele não me tirou do “cargo” de vice, mas
recebi várias vezes ligações dele dizendo que eu deveria ficar na minha
e não causar problemas para a dita cuja, senão a coisa iria “feder” pro
meu lado, entre outras “cositas mas”.
Vou
fazer um parêntese, para falar aqui um pouco sobre este “pastor”: em
determinado sábado, fomos convocados a fazer uma confraternização com a
equipe de outra cidade, iríamos passar o dia lá, e a noite teríamos um
treinamento de vendas, também o pastor Diretor de Publicações da Casa
Publicadora Brasileira estaria lá conosco. Naquele dia, tive mais uma
demonstração da liderança adventista. O pôr-do-sol era em torno das
17:45hs naquele dia, porém, lá pelas 16:00hs, eu estava em uma roda de 3
pessoas, incluindo este pastor visitante, e ele sem mais nem menos,
começou a contar piadas, leves de começo, mas a coisa começou a ficar
pesada a medida que ele ia se empolgando; até chegar ao ponto de começar
a contar piadas pornográficas. Quando chegou às 17:00hs começaram a
fazer o culto de pôr-do-sol, pois não poderia atrasar o cronograma. O
tal do treinamento de vendas começou exatamente às 17:30hs, 15 minutos
antes dó que deveria ser. Depois ele se desculpou dizendo para um grupo
de pessoas, que Deus haveria de dar um desconto, afinal estávamos ali
por causa da obra Dele.
Este
pastor, frequentemente comprava no Paraguai eletroeletrônicos, enchia o
porta malas do seu carro, e levava para as campanhas para “vender” as
colportores. Ví várias vezes ele entregando um objeto na mão de um
colportor, dar um preço quase que o dobro do valor de mercado, virar as
costas e dizer que no final da campanha ele descontaria no acerto. Mesmo
sem saber se havia interesse ou não das pessoas, ele fez isso muitas
vezes, inclusive com aqueles mais pobres que passavam necessidades.
O
que vou falar agora é muito grave, mas é a mais pura verdade, este
“pastor” acobertava descaradamente os constantes roubos da liderança. No
final da Campanha, eu e meu amigo, fomos obrigados a passar os acertos a
outro líder, pois disseram que não saberíamos fazê-los. Faça os
cálculos comigo: aluguel da casa – R$ 1.200,00 + água – R$ 350,00 +
energia – R$ 1.000,00 (custos médios por mês). A regra em campanhas é
somar todos os custos e dividir por todos os membros da campanha. A soma
desta conta aí é R$ 2.550,00 x 3 (a campanha dura 3 meses) que é igual
R$ 7.650,00 por todo o período de 3 meses de campanha. Foram em torno de
80 membros o total de pessoas que passaram pela campanha de São Bento.
Dividindo R$ 7.650,00 por 80, dá um resultado de R$ 95,62 por pessoa.
Este deveria ser o custo de campanha para cada membro. Porém, no acerto
foi cobrado em torno de R$ 350,00/pessoa, isso dá um total de R$
28.000,00, somente da Campanha de São Bento do Sul. Fiquei sabendo que
alguns pagaram até mais que R$ 350,00. E aí não estão contabilizados os
valores que os colportores têm que acertar dos livros que eles ficam
devendo. Existe muito mais coisa bem cabeluda que não vou contar, pois
meu relato ficaria extremamente longo. Só com estes detalhes, você
leitor, já pode ter uma pequena idéia da podridão que é a colportagem
adventista. Fiz uma pesquisa, e descobri que a IASD estaria com grandes
problemas se um fiscal do trabalho fizesse uma fiscalização em uma
destas campanhas. Literalmente, existe trabalho escravo descarado nestes
lugares.
Fechando
o parêntesis. Passei no vestibular, e fui para o UNASP, como sou
casado, não poderia morar nos alojamentos, isso quer dizer: precisava me
virar. Fui morar em Mogi-Mirim, uma cidade bem próxima do UNASP, ia e
voltava de carro todos os dias, pagava por uma “carona” de um colega meu
de classe que morava na mesma cidade. Esta fase da minha vida, foi
decisiva para abrir meus olhos a respeito do adventismo. Quando cheguei
como aluno de teologia, tinha certeza que minha missão era me formar,
ser ordenado e começar uma reforma na Instituição, pois não poderia
aceitar que a “Igreja de Deus na terra” tivesse um erro doutrinário tão
grosseiro.
No
primeiro mês já veio a primeira decepção. Aquela carta de crédito que
eu tinha “ganhado” não chegou, pedi para meu amigo, que ainda estava
colportando, pois não havia passado no vestibular, ir até a Associação
em Florianópolis falar com o pastor. Fiquei sabendo que o tal do pastor
decidiu não mais me dar a tão esperada carta. E agora, que eu poderia
fazer? o curso de teologia é em período integral, e eu teria 6 meses
pela frente de custos com alimentação, moradia, vestuário, transporte e
mais o valor do curso que por sinal é um absurdo de caro. Baseado que
ali estão se formando pessoas para trabalharem na obra adventista, o
correto é a obra pagar tudo, mas acontece exatamente ao contrário: tudo é
cobrado, descontado e etc... Logo no primeiro mês de aulas, ao fazer um
trabalho, me deparei com Esdras 7:27 que diz que naquele ano o rei
“ornou” o templo em Jerusalém, isso vai na contramão daquilo que Ellen
White diz, fere todo o princípio da “Profecia das 2300 tardes e manhãs”.
Fiquei
muito preocupado com o que havia lido e aproveitei a vasta biblioteca
do UNASP para começar a estudar mais e mais as profecias da senhora
White. Quanto mais eu me aprofundava, mais estarrecido eu ficava com
minhas descobertas. A vantagem é que eu tinha tudo o que eu precisava
ali na mão e de forma fácil, livros de todos os tipos e edições. Comecei
também a procurar comentários na internet sobre as falsas profecias de
Ellen White, e pude comprovar uma a uma. Tinha a minha disposição o
Centro White, e todo tipo de material que eu precisava. Este período de
descobertas durou todo o primeiro semestre, e neste tempo, pude
argumentar com alguns professores a respeito de várias coisas. Obtive
muita embromação, mas a frase que mais me marcou foi a de um pastor, em
plena sala de aula. Antes de perguntar a ele sobre um determinado
assunto, eu disse que eu procurava me aprofundar mais nos estudos,
queria ir além daquilo que me era apresentado, a resposta dele foi uma
das mais marcantes da minha vida. Ele disse: “Pessoal, vocês não
precisam pensar, é só vocês aceitarem o que ensinamos para vocês. Já
está tudo pronto, não tem nada de novo pra ser descoberto”.
Lembro-me
que um dia, este mesmo pastor estava ministrando uma aula de História
do Adventismo, e um dos assuntos abordados eram as características
físicas sobrenaturais quando Ellen White “recebia” uma visão. Um dos
meus colegas, na inocência, perguntou ao pastor se aquele tipo de coisa
Satanás também poderia fazer? Este pastor ficou extremamente irritado, e
respondeu: “Poder, ele podia, mas você também poderia ter ficado de
boca fechada”. Este tipo de coisa acontece frequentemente dentro das
salas de aula. Os alunos não são encorajados a pensar por conta própria,
os alunos de teologia do UNASP são programados a serem robôs, receber
tudo que é passado de bom grado, e nunca argumentar nada que seja fora
do padrão adventista, pois se você fizer isso, começará a ser visto com
maus olhos pela direção do curso.
Neste
período, pude comprovar tudo que há de pior dentro da IASD, e para mim e
minha esposa foi um período extremamente difícil, pois à medida que eu
ia me aprofundando, mais apavorado eu ficava, pois ia descobrindo que
perdi 31 anos da minha vida em uma instituição que era mais uma farsa
religiosa, que não tinha diferença alguma de qualquer outra igreja que
ela condena tão veemente. Foram muitas madrugadas de oração, estudo e
choro, quanto mais eu me aprofundava no assunto, mais eu via que aquela
igreja era simplesmente mais uma, e ia me convencendo daquilo que eu
deveria fazer: afastar-me completamente dela. Percebia que toda minha
vida espiritual, desde meu nascimento, havia sido um engano.
A
decisão não foi fácil. Muito sofrimento, muitas noites sem dormir,
muitas lágrimas derramadas, mas as coisas foram tomando seu rumo, e hoje
posso dizer que estou livre daquele pesadelo espiritual que se chama
Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em relação as necessidades financeiras,
Deus nos deu capacidade para pensar e força para agir, e não passamos
necessidades, graças a Ele.
Meu
pesar é que tenho muitos parentes queridos dentro desta instituição.
Rogo a Deus que me dê a graça de livrar estas pessoas antes que seja
tarde demais. Graças a Deus, consegui mostrar estes mesmos erros a meu
irmão, e hoje ele não mais pertence à IASD. Está para mim já é uma
grande vitória.
Mas
você pode me perguntar: mas se foi Deus que mandou você se tornar
pastor, na igreja adventista ainda, porque você saiu dela? A resposta é
bem simples, Deus me conhece e sabe das minhas convicções, sou uma
pessoa firme nas minhas idéias e para mudá-las os argumentos precisam
ser fortes e muito bem embasados. Tenho certeza que Deus me enviou para o
UNASP porque somente estando lá, eu poderia ter acesso a muito material
que não teria em outros lugares. E somente estando lá é que pude ver
com meus próprios olhos, coisas sobre a instituição que não poderia ver
em nenhum outro lugar. Deus preparou isso pra mim, exatamente para me
salvar das ilusões adventistas. O Eterno seja louvado por isso. AMÉM!
Hoje, sou editor do micro blog HTTP://foconaverdade.wordpress.com
que utilizo para mostrar as verdades que aprendi e continuo aprendendo
através somente da bíblia, sem nenhuma outra intervenção humana. E
também utilizo assim como este site, para mostrar as barbáries
adventistas, a fim de alcançar um único adventista que seja, e
mostrar-lhe a “verdadeira verdade”, a verdadeira libertação em Jesus
Cristo.
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