Parte III
Ellen G. White afirmou: “Não
tenho o hábito de ler nenhum artigo doutrinal no diário para que minha mente não sofra a influência das idéias e
pontos de vista de nenhuma outra pessoa.” (Mensagens Escolhidas, vol 3, p.
63). Embora alguns defensores de Ellen G. White neguem que ela recebesse
influência de outros autores, é fato evidente em suas obras a influência direta
de vários deles. Mas será que além de ser influenciada, Ellen G. White assumiu a autoria de
material escrito por outras pessoas?
A obra mais famosa de Ellen G.
White é o livro “Caminho a Cristo”, traduzido em mais de 150 idiomas e com
publicações que ultrapassam a casa dos quinze milhões de exemplares. Sobre essa
obra repousam sérias questões que merecem ser analisadas. Como este livro foi
produzido e porque esse assunto é tão delicado para o White State?
I. Fannye Bolton, secretária de
Ellen G. White afirmou que 'parte' do que era publicado sob o nome de EGW eram construções suas e de Marian Davis. A maior parte da
obra “Caminho a Cristo”, além da revisão e montagem final é da autoria de
Fannye Bolton, conforme suas próprias declarações. Embora Herbert Douglass, no
livro “A Mensageira do Senhor”, afirme que várias idéias e escritos anteriores
de Ellen G. White estejam presentes no livro “Caminho a Cristo” e negue a
autoria de Marian Davies, ele
não nega a participação de Fannye Bolton. Fannie Bolton não só escreveu
livros para a Sra. White, como também artigos e algumas cartas sob o nome da
Sra. White. Fannie confessou a Merritt G. Kellogg, meio-irmão de John Harvey
Kellogg, que o que ela escrevia... "publicava-se na Review and Herald
(...) como se o tivesse escrito a Sra. White sob a inspiração de Deus. (...)
Sinto-me muito angustiada por esse assunto, porque sinto que estou agindo com
engano. As pessoas estão sendo
enganadas acerca da inspiração do que eu escrevo. Parece-me muito mal que
qualquer coisa que eu escrevo saia sob o nome da Irmã White como um artigo
especialmente inspirado por Deus. O
que eu escrevo deveria sair com minha própria assinatura (...) assim o crédito seria dado a
quem lhe corresponde." (Review and Herald, 27 de nov. de
1883; F. D. Nichol, Ellen G. White and her Critics, Review and Herald, 1951,
USA, pgs. 479-486; Herbert Douglass, Mensageira do Senhor, 453).
II. O neto de Ellen G. White,
Arthur White afirmou em tom de desafio: “Se as mensagens transmitidas por Ellen
G. White tiveram sua origem nas mentes ou nas influências que a rodeavam; se as mensagens sobre organização se pode seguir seus rastros até as
idéias de Tiago White ou George I. Butler; se os
conselhos sobre saúde se
originaram nas mentes dos doutores Jackson, Trall ou Kellogg; se as instruções sobre educação se basearam nas idéias de G. H. Bell
ou de W.W. Prescott; se os altos estandartes defendidos nos escritos e livros
de Ellen G. White foram inspirados por homens poderosos de sua causa – então os conselhos do Espírito de
Profecia não significam nada para nós do que algumas boas idéias e conselhos
úteis.” (Arthur L. White, "Who Told Sister
White?" Review (14 de Mayo de 1959), p. 1. p. 6).
III. Interessante é notar que Arthur
White menciona os nomes que todo bom pesquisador da história da Igreja
Adventista imagina. Estas
pessoas citadas de fato influenciaram Ellen G. White. Seu neto, ao lançar
um desafio (o qual ele depois negaria enfaticamente no mesmo artigo), acaba por
apontar para as pessoas certas revelando um fato dado como certo por vários
teólogos e membros da igreja de hoje. Entretanto, vinte e dois anos mais tarde,
em 1981. Quando admitiu que houve dependência literária nos escritos de Ellen
G. White, já perto de sua morte, Arthur
White acabou por confirmar que Ellen G. White sofreu forte influência de outros.
Será que podemos deduzir como
verdadeiras suas palavras “os
conselhos do Espírito de Profecia não significam nada para nós do que algumas
boas idéias e conselhos úteis”? (Arthur L. White, "The Prescott Letter to
W. C. White [6 de Abril de 1915], "fotocopiado (Washington: EGW Estate, 18
de Enero de 1981), p. 4, 7.)
IV. Secretárias e mesmo Willie
White escreveram ‘cartas de aconselhamento’ que receberam o selo “Ellen G.
White”. E a ajuda que ela recebeu de suas secretárias e ajudantes editoriais
ultrapassavam muitas vezes o limite da revisão e seleção de temas. Eles tinham
muita liberdade para reorganizar o material para sua edição final. Marian Davis, Clarence C. Crisler,
Dores E. Robinson, Mary Steward, Fannie Bolton, Mary H. Crisler, Sarah Peck,
Maggie Hare, e H. Camden Lacey eram
as pessoas mais conhecidas que trabalharam com ela diretamente. Mas houve outros mencionados por Willie White: Lucinda Abbey Hall, Adelia Patten
Van Horn, Anna Driscoll Loughborough, Addie Howe Cogshall, Annie Hale Royce,
Emma Sturgis Prescott, Mary Clough Watson, e a sra. J. L. Ings. (W. C.
White, citado por Robert W. Olson y Ronald D. Graybill em um Seminário no
Southern Missionary College no outono de 1980; De W. C. White para o Comitê da
Conferência Geral, 3 de Outubro de 1921; John Harvey Kellogg - Entrevista
autêntica - G. W. Amadon, para o ancião A. C. Bourdeau - Battle Creek,
Michigan, 7/10/1907).
V. Tiago White afirmou: “Ela é
frágil e deve ser tratada com delicadeza, ou nada pode fazer. Os Prs. Butler e Haskell têm tido
uma influência sobre ela que espero ver interrompida. Isso quase a tem
arruinado. Esses homens não devem ser suportados pelo nosso povo para agirem
como têm agido ao ponto de quase todos os nossos ministros desanimarem quase
que inteiramente. Os jovens são mantidos fora do ministério pela atitude
estreita e cega deles.” “A pressão tem sido terrivelmente dura sobre minha
pobre esposa. Ela tem sido muito influenciada pelos Prs. Butler e Haskell.” (Citado em The Case of D. M. Canright, por Norman F. Douty, p. 77 e 78).
VI. Ao compor diversos livros como
“O Grande Conflito”, “Atos dos Apóstolos”, “Patriarcas e Profetas” e “O
Desejado de todas as Nações” (além de outros), Ellen G. White recebeu ajuda
direta, orientações, conselhos e material de Tiago
White, Urias Smith, John Andrews, W. W. Prescott, A.G. Daniells, Dores E.
Robinson, O. C. Crysler, isso além de seus assitentes editoriais e
secretárias. (Uriah Smith, "The Sanctuary and the
Twenty-three Hundred Days of Daniel VIII, 14". Battle Creek: Steam Press,
1877. J. N. Andrews, The Prophecy of Daniel: the Four Kingdoms, the Sanctuary,
and the Twenty-three Hundred Days la Profecía de Daniel (Battle Creek: Steam
Press, 1863. Robert W. Olson, "Historical Discrepancies in the Spirit of
Prophecy", nota no apêndice por Arthur L. White, fotocopiado - Washington:
EGW Estate, 17 de Julio de 1979, General Conference Report, 1919).
Perguntas:
I. Poderia uma profetisa inspirada
por Deus aceitar ajuda para
escreverem em seu lugar e compor seus escritos de pessoas não inspiradas
diretamente?
II. Por que Ellen G. White permitia
que cartas escritas por
secretárias levassem seu nome?
III. A beleza e o estilo superior de
algumas obras de Ellen G. White se deve a ela ou aos seus colaboradores?
IV. Por que não foi dado o devido crédito a
Fannye Bolton? E por que os outros colaboradores não receberam nenhuma
menção?
Entre 1977 e 1979, Robert Olson,
secretário do White State manteve correpondências e reuniões com um pastor
adventista do sul dos Estados Unidos, chamado Walter Rea, que realizava uma
série de pesquisas intrigantes sobre os escritos de Ellen G. White. Olson pediu
ao pastor Walter Rea que não publicasse seus estudos até que outros pudessem
analisá-lo e teve seu pedido atendido. Reconhecidamente pelo White State,
Walter Rea era a pessoa que havia estudado mais a fundo os livros de Ellen G.
White e como eles tinham sido escritos. A divulgação em alguns círculos
adventistas dos estudos de Walter Rea sobre o “plágio” nos “testemunhos”
levaram a administração a convocar uma reunião em 1980 para analisar esse grave
assunto.
I.
Nas correspondências com Walter Rea, o White State (com
sede em Washington) sempre parecia ter desculpas para os "empréstimos
literários" de Ellen G. White. Então, nessa época, um jovem chamado Bruce
Weaver, seminarista da Universidade Andrews e pastor na Conferência do
Arkansas-Lousiania, teve acesso ao material de pesquisa de Walter Rea e pediu
para fotocopiá-lo. Recebeu autorização e percebeu que havia mais informação no
material do que apenas os estudos de Walter Rea. Ali também estava uma lista
com nomes de todos os livros que havia na biblioteca particular de Ellen G. White
e ainda as sugestões dadas por escrito por Robert Olson e Arthur White de como
lidar com oproblema ‘Walter
Rea’ (utilizar linguagem de duplo sentido e fazer pressão sobre ele). Cientes
de que o material havia caído em mãos erradas, o White Estate acusou Bruce de
‘roubar’ o material da biblioteca, ainda que ele só tivesse copiado e
devolvido. Ao final, Bruce foi despedido do seminário e do ministério.
(Depoimento pessoal de Bruce Weaver – [exposed] – Site; W. L., p. 11, 1982).
II.
Com a divulgação informal das pesquisas de Walter Rea,
Olson se dedicou a fazer uma campanha verbal para suavizar o impacto que as
pesquisas revelavam. Além disso, pessoas de várias regiões da América Norte já
estavam solicitando a evidência encontrada nos trabalhos do pastor Walter Rea.
Numa apresentação que Olson fez, numa tarde de janeiro de 1979, na Universidade
de Loma Linda, na Califórnia, alguém no auditório perguntou a respeito do
empréstimo literário por parte de Ellen G. White. A resposta de Olson foi no
sentido de que nada disso era verdade, que todos os escritos eram apenas de
autoria dela. Chocado com essa atitude de Olson, Walter Rea dirigiu-se
diretamente à cúpula da Igreja e apresentou o caso. (W. L., p. 12, 1982).
III.
Em Glendale foi formado um comitê para estudar o
assunto. Ele recebeu o nome de “Glendale Committee, "Ellen G. White and
Her Sources” e ocorreu nos dias 28 e 29 de janeiro de 1980. Vieram a tona
não só os estudos de Walter Rea, como também outros que o White State já
possuía há algum tempo. Cientes de que Ellen G. White havia utilizado em grande
medida outros autores para compor suas obras, decidiu-se contratar um erudito
adventista para realizar uma longa investigação sobre a dependência literária
de Ellen G. White ao escrever o livro “O Desejado de Todas as Nações”. No caso
do livro “O Grande Conflito” esta pesquisa se mostrava naquele momento
desnecessária, em função de ser óbvio de que ela havia se servido de outros
autores. Mas no caso do “Desejado” isso não era tão evidente e este era um dos
livros mais apreciados de sua autoria. (http://www.whiteestate.org/issues/issues.asp)
IV.
Este é o anúncio editorial não assinado na Revista
Adventista norte-americana em 27 de novembro de 1980:
"Depois de exame cuidadoso dos
dados, isto [O Comitê de Glendale, de 28-29 de janeiro de 1980] concluiu que o
uso que Ellen G. White fez de outras fontes foi mais extenso do que nós
tínhamos percebido a princípio; recomendamos que um erudito treinado em análise
literária empreenda um estudo minucioso de “O Desejado de Todas as Nações”.
Esta sugestão foi adotada pela Conferência Geral. O Dr. Fred Veltman, um
erudito do Novo Testamento da Faculdade do Pacific Union College já está em
tempo integral comprometido no projeto onde se espera que esteja terminado em
aproximadamente dois anos".
V.
Impacientes com o andamento das coisas e aborrecidos
com a divulgação das pesquisas de Walter Rea, a denominação tirou as
credenciais de ministro adventista. Preocupada com o rumo que as coisas
poderiam tomar e com o trabalho da equipe de Fred Veltman ainda no começo, a
Associação Geral tomou uma decisão inusitada. Contrataram um advogado para
defender Ellen G. White da acusação de plágio.
VI.
A contratação
de um advogado católico para defender Ellen G. White da acusação de plágio acabou custando 'caro' para a
organização. Primeiro porque a ala tradicional adventista não admitia nenhum
tipo de ligação com a igreja do Vaticano e segundo, porque a defesa feita por Ramik é para bons entendedores, uma completa admissão de culpa.
Torna-se evidente na opinião legal de Vincent Ramik que Ellen G. White só não
pode ser considerada uma plagiária (ou plagiadora) porque a lei especifica dos
direitos autorais surgiu apenas em 1916.
VII.
As expressões ‘legais’ de Vincent Ramik de que as
seleções de trechos de outros autores feitas por Ellen G. White “permaneceram
bem dentro dos ‘limites legais' do uso justo’" e "Ellen G.
White usou os escritos de outros, mas
na maneira que os usou, ela tornou-lhes
excepcionalmente seus próprios’ (…) ‘adaptando as seleções em sua própria
estrutura literária’". Todas essas frases de Ramik são a mais perfeita
admissão de dependência literária. E como ela não dava o devido crédito às suas
fontes, isso acaba sendo uma confissão camuflada de plágio. É incompreensível
como as declarações (de Ramik) ainda podem ser utilizadas por concienciosos
adventistas para defender Ellen G. White. (http://centrowhite.uapar.edu/).
VIII.
Dois anos após seu desligamento, Walter Rea sentiu-se
livre para publicar o livro “White Lie” (A Mentira Branca). Segundo depoimentos
de adventistas que vivem há muitos anos nos Estados Unidos, o livro do pastor
Rea ocasionou mais danos à
IASD que os adventistas no resto do mundo poderiam imaginar e tiveram notícia.
Felizmente para a administração da IASD, o livro não foi imediatamente
traduzido para outras linguas e os seus efeitos ficaram circunscritos aos
Estados Unidos. Este problema aliado às consequências já perceptíveis da
questão doutrinária “Desmond Ford” fez com que milhares de adventistas
abandonassem a igreja e a Igreja acabou passando por uma grave crise ideológica
e financeira.
IX.
A crise foi tamanha que até o jornal The New York Times deu espaço para ela em suas páginas.
Com assuntos ligados a Ellen G. White, foi exposto no “The New York Times”, de
06/11/1982, com destaque, num artigo intitulado “7th-Day Adventists face Change
and Dissent”. Entre os tópicos deste famoso periódico, estavam os subtítulos:
“Mais de cem ministros já se demitiram da Igreja ou têm sido forçado a
fazê-lo”; “O foco do fermento dos adventistas é a Universidade Andrews”;
“Vários incidentes nos dois últimos anos têm provocado o aparecimento de
tensões e abaixamento da moral”. Ali eram mencionadas as questões que envolviam
o questionamento da autoridade de Ellen G. White, tanto por Walter Rea, como no
caso Desmond Ford.
X.
Mas não era só isso, e o texto da Revista Time de agosto de 1982 (que cita como fonte
a Revista “Ministry” de julho de 1982), declara: “O mais chocante de tudo: ela
[EGW] usava as palavras de autores anteriores como se fossem as palavras que
escutava quando em visão. Em alguns casos, ela usa as palavras de autores do
século dezenove como se fossem de Cristo ou de um guia celestial.”
XI.
Novamente vale a pena ler as palavras de alguém que
estava no centro dos acontecimentos e olhava desde a perspectiva da igreja. No
começo de suas investigações o Dr. Fred Veltman afirmou:
“... a
credibilidade dos dirigentes da Igreja diminui a cada nova publicação. (...) A
igreja deveria estar na linha de frente fazendo o estudo e informando aos membros da igrejaquando
a informação tenha sido cuidadosamente avaliada.”
“O que é difícil
entender é porque a igreja não
está disposta a trabalhar com Walter apesar
de que ele está disposto a trabalhar com a igreja.”
“Walter está
decidido a chegar fundo ao problema e torná-lo conhecido a Igreja. Ele não quer que outra geração
passe pela agonia pessoal da desilusão que ele experimentou. Isto é
inegociável para Walter e é difícil criticá-lo por sua convicção em vista da
evidência e da história desse problema na igreja.” Fred Veltman, "Report
to PREXAD on the E. G. White Research Project" [Informe para PREXAD sobre
o Projeto de Investigação Acerca de E. G. White]; fotocopiado (Angwin, CA Life
of Christ Research Project, n. d. [Abril de 1981], p. 21 a 25).
A lição do 1º Trimestre de 2009
se propôs a fazer o que nenhuma outra lição antes tentou na história da Igreja
Adventista: mostrar uma Ellen White mais humana, mais falível, sujeita a erros,
mas sobretudo (e ainda) profetisa e autora de escritos inspirados. Bem, essa
foi a proposta esboçada na introdução da Lição, mas no decorrer dela, ele faz
exatamente o contrário. Enfatiza continuamente o dom superior de Ellen G. White
e a compara com os profetas bíblicos.
Sobre o modelo de inspiração e
forma de preparar os escritos, o autor da Lição, Gerhard Pfandl, faz
comparações entre os autores bíblicos Lucas e Paulo e Ellen White. Mas ele faz uma comparação forçada,
parcial e equivocada. (colaboração
de J. Clophas).
I.
Gerhard Pfandl diz que tanto Lucas, como Ellen White
tiveram inspiração em harmonia com os eventos históricos. Vejamos se de fato
foi assim:
II.
Sobre o modelo de inspiração e forma de preparar os
escritos, o autor da Lição, Gerhard Pfandl, faz comparações entre os autores
bíblicos e Ellen White. Ao falar sobre a inspiração de Lucas (o evangelista bíblico),
Gerhard Pfandl diz que ele “não foi testemunha ocular dos eventos que
descreveu. Em vez disso, ele escreveu sobre o que aprendeu de outros, todos,
sem dúvida, sob a inspiração e direção do Espírito Santo, o que assegurou de
que o que escrevia estava em harmonia com os eventos históricos e com a vontade
de Deus.” (Lição da Escola Sabatina, jan/fev/mar 2009, p. 60 da Lição dos
Adultos – Professor, CPB). Fica
claro que, por estar sob a direção e inspiração do Espírito Santo, Lucas
escreveu em harmonia com os eventos históricos e de acordo com a vontade de
Deus.
III.
Gerhard Pfandl fala que o mesmo se passou com Ellen
White: que ela escreveu sob a inspiração do Espírito e em harmonia com os
eventos históricos. Mas será que foi assim mesmo?
IV.
Robert Olson (responsável pelo Patrimônio Literário
White nas décadas de 1970 e 1980), após pesquisar diretamente nas fontes
utilizadas por Ellen White, afirmou: “Ao seguir o livro de Willie, a sra. White fez várias
afirmações históricas errôneas (sobre
John Huss, por exemplo) que agora se consideram inexatas”. (Robert W. Olson, "Questions and Problems to Mrs. White´s Writings
on John Huss," EGW State, 1975, p. 6). Em
outras palavras, Ellen
White não pode ser comparada com Lucas, pois ela não escreveu em harmonia com os
eventos históricos. Olson continua: “Aceito o fato de que Ellen White
seguiu a Willie muito, muito de perto – desde a página 97 até a página 110 do The Great Controversy (O Grande Conflito).” (idem). Ellen G. White copiou tantas
páginas seguidas do escritor Willie, que copiou até seus erros históricos.
V.
E a partir daí, Robert Olson é ainda mais contundente:
“Para mim, é difícil crer que o Senhor dera a sra. White uma visão ou uma série
de visões que, ao longo de quatorze páginas, coincidisse com o escritor Willie
em tantos detalhes.” (idem).
VI.
Como os documentos de Robert Olson são de 1975, fica
evidente que mesmo antes das revelações do relatório do Dr. Fred Veltman, em documentos não abertos ao
público, Robert Olson (responsável pelo Patrimônio Literário White)
demonstrava não apenas já
saber da questão do plágio, mas mesmo duvidar
que Deus houvesse revelado algumas coisas a Ellen G. White. Mesmo assim,
ele mentiu aos membros da Igreja da Califórnia em 1979, ao negar que Ellen G.
White tivesse utilizado outras fontes que não seus sonhos e visões. Olson
apresenta dois sérios problemas nos escritos ‘inspirados’ de Ellen White: mesmo escrevendo sob inspiração,
havia erros e inexatidões históricas nos escritos da sra. White; ele,
Robert Olson, duvidava que Deus houvesse revelado algumas coisas a Ellen G.
White, pois ela copiou
quatorze páginas consecutivas de outro autor, coincidindo em detalhes a tal
ponto, que chegou mesmo a copiar seus erros.
VII.
Para ele, diretor do Centro White americano, era difícil crer que Deus houvesse
revelado através de visões aqueles detalhes históricos equivocados. E por
que ele afirmava isso? Por que a própria sra. White negava utilizar outras
fontes e dizia estar escrevendo sob inspiração: "Enquanto eu preparava o
manuscrito do "Grande Conflito", era sempre consciente da presença
dos anjos de Deus. E muitas vezes as cenas sobre as quais estava escrevendo se
apresentam novamente em visões à noite, de maneira que estavam sempre frescas e
vívidas em minha mente." (Carta 56, 1911; O Colportor Evangelista, p.
128).
VIII.
Mas o autor da Lição da Escola Sabatina continua a
sua comparação e na
sequência, compara Paulo, Lucas e Ellen White,
dessa vez para dizer que os escritores bíblicos também utilizaram outros
autores como fonte. Após falar sobre Lucas, Pfandl fala sobre Paulo:
IX.
“No Novo Testamento, o apóstolo Paulo não só recebeu
informações verbais de outros (I Cor 1:10, 11) como, em alguns lugares, citou
escritos de autores pagãos. Por exemplo, em Atos 17:28, ele cita o poeta
ciliciano Aratus (...) Veja também I Coríntios 15:33 e Tito 1:12, em que Paulo
citou outras fontes, tudo, a fim de ensinar a verdade inspirada.” (Lição da
Escola Sabatina, jan/fev/mar 2009, p. 60 da Lição dos Adultos – Professor,
CPB).
X.
Para completar a sua comparação, já falando sobre Ellen
White, o autor da lição diz: “Em certas ocasiões, Ellen White usou outros
livros como fontes de seus próprios escritos. Na introdução de O Grande
Conflito, ela escreveu: “Os grandes acontecimentos que assinalaram o progresso
da Reforma (...) Esta história, apresentei-a de maneira breve (...) Em alguns
casos em que algum historiador agrupou os fatos (...) ou resumiu (...) suas
palavras foram citadas textualmente; nalguns outros casos, porém, não se nomeou
o autor, visto que as transcrições não são feitas com o propósito de citar
aquele autor como autoridade (...) Narrando a experiência e perspectiva dos que
levam avante a obra da Reforma em nosso próprio tempo, fez-se uso semelhante de
obras publicadas”. (p. Xi, XII).
XI.
Será que foi de fato assim? Será que Gerhard Pfandl tem
razão dessa vez?
XII.
O que o
autor da lição não diz aos seus leitores (ou
seja, aos membros da Igreja) é que tanto Paulo,
quanto Lucas deixam bem claro para seus leitores o que estavam fazendoe de
onde tiraram suas informações. Por exemplo, Lucas deixa claro no início de seu
evangelho, tanto o seu estilo de escrever como as suas fontes de informações.
Paulo, ainda mais consciencioso, toda vez que cita algo que não é de inspiração
divina, deixa isso muito claro aos seus leitores. É só pegar a Bíblia e
conferir: Lucas 1:1-4, Atos 17:28, I Cor. 1:10-11, 6:12, Tito 1:12.
XIII.
Com relação à Ellen White, o autor da lição não
esclarece aos leitores o fato de que a obra O Grande conflito foi publicada em
sua edição mais completa e conhecida em 1883 e vendida aos membros da Igreja e,
pelos colportores, aos de fora, desde então, sem menção de que ela utilizou as
obras de outros autores para compor seu livro. Somente em 1911, vinte e oito
anos após aquela edição, após
muitas críticas e acusações de plágio e um pedido dos colportores, é que a
introdução de O Grande Conflito foi reformulada conforme citada acima e a obra
também, passando a incluir as notas de referência das obras de outros autores,
mas não de todos.
XIV.
E por que não há referências de todos os autores, os
quais Ellen White usou como fontes na obra O Grande conflito? Porque, como
disse o erudito adventista Don McAdams nas reuniões de Glendale em 1980 que,
“(...) se cada parágrafo do livro “O Grande Conflito” tivesse adequadamente
notas de rodapé indicando as fontes, então todos os parágrafos do livro teriam
referências ao pé da página.” (McAdams, "E. G. White and the Protestant
Historians", pp. 231-234).
XV.
Outro ponto esclarecedor é dado pelo próprio Centro de
Pesquisas White. Após tantos anos e o pelo fato de terem sido usados tantos
autores diferentes, não era tarefa fácil identificar cada um deles. Por isso,
mesmo na correção da obra vários
autores utilizados por Ellen White não foram mencionados. Acompanhe a
narrativa do filho de Ellen White sobre “A revisão do Grande Conflito de 1911” em documento oficial do
White State:
“Quando
apresentamos a minha mãe o pedido de alguns colportores, no sentido de que na
nova edição não se deviam dar somente referências bíblicas, mas também as referências dos
historiadores citados, ela nos instruiu a buscar e insertar as
referências históricas. Também nos instruiu para que verificássemos as
referências e corrigíssemos qualquer inexatidão que encontrássemos.” (...)
A
busca de diversas passagens citadas de historiadores tem sido uma tarefa árdua,
e a verificação das passagens citadas nos induziram a fazer mudanças na
fraseologia do texto. (...)
Em
alguns poucos casos, foram usadas citações de historiadores, pregadores e
escritores modernos no lugar dos antigos, porque têm mais força ou porque não conseguimos encontrar
a procedência das anteriores. (...) Em cada caso, minha mãe examinou
detidamente a substituição proposta e as aprovou. (...)
Há,
porém, alguns pontos ou citações do livro que até agora nos foram impossíveis
de localizar. Afortunadamente,
relacionam-se com assuntos acerca dos quais não há probabilidade de haver séria
discussão. (...)
Em
vários lugares foram mudadas formas de expressão para evitar que se produzissem
ofensas desnecessárias. (...)
Fonte:
Tópico sobre a Edição do Grande Conflito de 1911, pp. 02 e 03.
XVI.
Embora Gerhard
Pfandl se esforce, não é possível comparar Ellen G. White com os escritores
bíblicos. Ela não seguiu corretamente as referências históricas (mesmo
estando sob inspiração), não procurou de nenhuma forma deixar claro aos seus
interlocutores o que estava fazendo e só fez modificações em uma das obras (O
Grande Conflito) porque os colportores pediram.
XVII.
É importante que a Igreja de fato esclareça aos membros
sobre a obra de Ellen White. Mas se há de fato uma intenção de mudar a postura
histórica adventista com relação à Ellen White, ao esclarecer seus métodos de
produção literária e detalhes sobre sua vida e obra, é vital que os
administradores saibam que isso pode deixar alguns irmãos chocados e
decepcionados. Mas, nessa hora, o antigo ditado tem seu valor ampliado: antes
tarde do que nunca.
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